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domingo, 20 de março de 2022

 

Quem foi Marie Curie e qual a sua importância para a ciência

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Imagem: Wikimedia Commons
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Em 2021, a Netflix adicionou o filme Radioactive em seu catálogo. Dirigido por Marjane Satrapi, conhecida amplamente por Persépolis, a obra retrata algumas das descobertas de Marie Curie, uma cientista polonesa que ficou conhecida principalmente por investigar o campo de assuntos radioativos.

Ao lado de seu marido, Pierre, sua mente brilhante e a grande paixão pela ciência fez com que ela desvendassem alguns mistérios, incluindo a importância da radioatividade na medicina e também seu perigo diante da população.

Mas Curie não foi pioneira apenas em sua área de atuação profissional. Há outros marcos importantes ao longo de sua carreira, sobretudo pela época em que esteve inserida, que são verdadeiramente extraordinários.

(Fonte: Shutterstock/ Reprodução)(Fonte: Shutterstock/ Reprodução)Fonte:  Shutterstock 

Além de ter sido a primeira mulher a vencer o prestigiado Prêmio Nobel, também foi a primeira a vencê-lo mais de uma vez — em 1903 ao lado de Pierre e em 1911. A cientista ainda foi a primeira mulher a se tornar professora da Universidade de Paris.

Quer saber mais sobre a vida da estudiosa, bem como suas contribuições importantes para a ciência? Confira mais detalhes logo abaixo!

Marie Curie: dos primeiros anos às primeiras descobertas

Curie nasceu em 1867, sendo filha de dois professores bastante importantes na região da Varsóvia. Por conta das crises políticas ocorridas durante sua infância, Wladyslaw Sklodowski, seu pai, professor de matemática e física, foi impedido de seguir ensinando em laboratórios e acabou levando alguns dos principais aparatos técnicos para sua residência, local onde seus filhos, sobretudo Marie, passaram a se interessar pelos assuntos que lecionava.

No entanto, por opiniões contrárias ao regime da época, Wladyslaw deixou seu cargo como professor e foi obrigado a trabalhar em uma nova posição com um salário menor. A crise política do país atingiu a família com uma devastadora crise financeira. Nessa época, Bronislawa, a matriarca, já havia falecido de tuberculose.

Embora tivessem grande aptidão para os estudos científicos, muito motivados pelo pai, Marie e suas irmãs não poderiam ingressar na área acadêmica tradicional. No entanto, elas se matricularam na clandestina Universidade Volante de Varsóvia, que até certo ponto admitia mulheres enquanto estudantes. E em 1891, aos 24 anos, Marie conseguiu se mudar para Paris, quando convidada por sua irmã mais velha, que já estava casada.

( Fonte: Shutterstock/Reprodução)( Fonte: Shutterstock/Reprodução)Fonte:  Shutterstock 

A partir desse ponto, ela conseguiu seus diplomas superiores mesmo diante de inúmeras dificuldades financeiras e passou a lecionar física para se sustentar. Anos depois, ingressou em laboratório profissional enquanto ainda seguia com sua formação na Universidade de Paris.

Foi apenas a partir desse ponto que começou verdadeiramente sua carreira científica, embora sempre tivesse um desejo latente em torno de pesquisas na área. Ao conhecer seu futuro marido, Pierre, os dois passaram a desenvolver estudos lado a lado, pois a paixão pela ciência foi o fator que mais os aproximou. Depois de propor casamento a Marie, Pierre decidiu se mudar para a Polônia com a amada, mas ela não conseguia emprego em sua área de formação apenas por ser mulher.

Dessa forma, ela decidiu seguir com a carreira acadêmica na França, conseguindo ingressar no programa de doutorado em estudos da física em 1895. E pensando sobre as contribuições de Wilhelm Roentgen e Henri Becquerel nessa mesma época para formular uma nova tese, Curie desenvolveu algumas hipóteses acerca dos raios de urânio. Utilizando técnicas inovadoras para suas análises, conseguiu fazer inúmeras descobertas, inclusive, sobre a questão de divisão dos átomos.

Marie Curie(Fonte: Shutterstock/Reprodução)Fonte: Shutterstock

Mas seus estudos não eram patrocinados e o laboratório utilizado era apenas um galpão sem qualquer tipo de segurança. Mesmo assim, o trabalho de Marie Curie ia impressionando cada vez mais Pierre, que decidiu se tornar um assistente dela conforme o tempo foi passando. E ao pensarem em fazer a divulgação científica, cunharam o termo “radioatividade” em um artigo publicado em dezembro de 1898.

Juntos, eles conseguiram postular suas teses e provar suas hipóteses em cerca de 32 artigos. Vale destacar, entretanto, que alguns deles foram publicados separadamente. Portanto, é correto afirmar que Marie Curie é a mãe da radioatividade, pois além de cunhar esse termo, também foi uma das primeiras cientistas a pensar sobre o assunto.

Mulheres na Ciência: quem está escrevendo a história atualmente?

Antes de qualquer coisa, é preciso elucidar que o fazer científico está ligado a diversas áreas, seja no campo dos elementos naturais, como Marie Curie, e também nas humanidades. Deixando um imenso legado para o mundo, a estudiosa polonesa é muito importante por sua determinação em seguir adiante, mesmo com impedimentos inaceitáveis.

Certamente, ela se tornou inspiração para muitas mulheres que pensam em dedicar suas vidas à ciência. Inclusive, atualmente, no Brasil, podemos citar alguns exemplos de sucesso, que investigam, cada uma em sua área de formação, temáticas que podem fornecer contribuições grandiosas.

(Nexo/Reprodução)(Nexo/Reprodução)Fonte:  Nexo 

Thaisa Bergmann, por exemplo, é doutora em Astrofísica, e estuda o papel dos buracos negros na evolução do universo, também pensando sobre a representação desses fenômenos na cultura popular.

Um outro exemplo interessante é o de Sônia Guimarães, a primeira mulher negra a lecionar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), uma das instituições mais prestigiadas do Brasil. Em seu fazer científico, ela se especializou na tecnologia dos componentes, obtendo o título de doutora em materiais eletrônicos.

Por fim, é válido também citar Beatriz Raposo, que estuda aspectos curiosos e específicos da linguística. Além de trabalhar com fonologia, a estudiosa ainda investiga alguns aspectos entre fala e canto e como a linguística se articula em outras áreas do conhecimento.

sábado, 19 de março de 2022

Gênios do Brasil #8: Cesar Lattes, o físico injustiçado pelo Prêmio Nobel

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Se algum dia o Brasil esteve muito, mas muito perto mesmo de ganhar um Prêmio Nobel, não foi pela literatura ou pela paz (o que também seria muito merecedor), mas sim pela física atômica. O personagem da oitava parte da série Gênios do Brasil realizou o que foi provavelmente seu maior feito, juntamente com outros pesquisadores, quando tinha apenas 23 anos. Por ter descoberto uma partícula dentro do núcleo dos átomos – o méson pi –, foi reconhecido como um dos maiores cientistas brasileiros de todos os tempos, apesar da injustiça ocorrida por não ter sido agraciado com o Prêmio Nobel de Física por seu trabalho.

Ainda é confuso o motivo pelo qual o Nobel não foi dado ao renomado cientista – o próprio já falou sobre o assunto – e muito se especula, falando-se inclusive em politicagem que teria beneficiado o colega inglês do brasileiro e o deixado de lado, mas casos como esse são complicados para se discutir, ainda mais tanto tempo depois. O importante é que o personagem sobre o qual falaremos hoje tem uma importância incalculável para a ciência no Brasil, e certamente tudo seria muito pior sem sua influência no mundo acadêmico tupiniquim.

Gênios do Brasil: César Lattes

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Muito precoce em sua carreira como cientista, Lattes fez parte de um grupo de jovens pesquisadores brasileiros brilhantes que surgiram nessa geração

Filho de imigrantes italianos, Lattes nasceu Cesare Mansueto Giulio Lattes na cidade de Curitiba em 11 de julho de 1924, mas ficou famoso com o nome abrasileirado, César. Mudou-se cedo para São Paulo, onde concluiu seu ensino básico e se graduou em Física e Matemática com apenas 19 anos de idade na Universidade de São Paulo (USP).

Muito precoce em sua carreira como cientista, Lattes fez parte de um grupo de jovens pesquisadores brasileiros brilhantes que surgiram nessa geração nas universidades brasileiras. Em contato com os professores Gleb Wataghin (russo naturalizado italiano) e Giuseppe Occhialini (italiano), Lattes foi parar na Inglaterra – após ter fundado com apenas 23 anos o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro – e lá trabalhou com Cecil Frank Powell na Universidade de Bristol.

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Cientista precoce

Recém-chegado na Inglaterra, Lattes inteirou-se do trabalho de Powell e, usando uma emulsão nuclear utilizada pelo renomado cientista e melhorando-a – por meio da adição de boro –, o pesquisador brasileiro foi capaz de identificar uma nova partícula subatômica, o que significou uma grande revolução no estudo da física atômica, criando uma nova área de conhecimento chamada física de partículas.

Lattes foi trabalhar em um laboratório construído na Bolívia a mais de 5 mil metros de altitude, onde usava chapas fotográficas para registrar e estudar raios cósmicos

O professor de Lattes, Occhialini, também se envolveu na pesquisa e desenvolveu trabalhos a respeito, mas apenas Powell foi reconhecido pela comunidade científica e agraciado com o Prêmio Nobel de Física pelo achado, mesmo com o brasileiro tendo sido extremamente crucial para a descoberta do méson pi. Nos anos seguintes, Lattes foi trabalhar em um laboratório construído na Bolívia a mais de 5 mil metros de altitude, onde usava chapas fotográficas para registrar e estudar raios cósmicos. Lá reforçou a natureza de sua descoberta com novos registros e ganhou, ainda cedo na vida, grande fama mundial.

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Retorno triunfal

Lattes voltou para o Brasil após um artigo publicado em outubro de 1947 na revista Nature, uma das mais conceituadas no mundo científico, e foi ovacionado pela imprensa e o público como um jovem gênio. No auge de seu sucesso, o cientista retornou à Europa, mas já com outras intenções: tinha vontade de ir para a Califórnia testar sua teoria com o auxílio do acelerador de partículas situado na Universidade de Berkeley, até então o mais potente que existia.

O cientista brasileiro caiu no gosto do público aqui no Brasil também, onde era chamado pela imprensa de 'herói da era nuclear'

O cientista brasileiro teve um grande apoio de ninguém menos que Niels Bohr, considerado um dos maiores físicos da história e vencedor do Prêmio Nobel de Física ainda em 1922. Chegando aos Estados Unidos, Lattes foi capaz de identificar o méson pi sendo gerado artificialmente pela máquina, e não apenas pelas emissões cósmicas que estudou na Europa e nos Andes usando chapas fotográficas. Esse uso de máquinas de grande potência para o estudo da física fez com que muito dessa ciência se voltasse para os Estados Unidos, tornando o país o novo centro de pesquisas na área.

As descobertas nas quais Lattes estava completamente envolvido sacudiram profundamente a ciência, sendo veiculadas tanto nas mais renomadas publicações científicas quanto em revistas e jornais de grande circulação. O cientista brasileiro caiu no gosto do público aqui no Brasil também, onde era chamado pela imprensa de “herói da era nuclear”, algo muito grandioso em plena Guerra Fria.

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A questão do Prêmio Nobel

E o Powell, malandro, pegou o prêmio Nobel para ele. Occhialini e eu entramos pelo cano

Muito se discute sobre o merecimento do Prêmio Nobel de Física que foi dado a Cecil Frank Powell justamente pelo trabalho do qual fez parte crucial o brasileiro César Lattes. Especula-se que o culpado por apenas Powell ter sido premiado seja o costume da associação responsável pela premiação de agraciar apenas os chefes das respectivas pesquisas ganhadoras da honraria, mas fala-se também em politicagem e preconceito.

Em uma entrevista para o Jornal da Unicamp, o próprio Lattes comentou o assunto que, para ele, na época, foi “malandragem” de Powell:

"Sabe por que eu não ganhei o prêmio Nobel? Em Chacaltaya, quando descobrimos o méson-pi, se publicou: Lattes, Occhialini e Powell. E o Powell, malandro, pegou o prêmio Nobel para ele. Occhialini e eu entramos pelo cano. Ele era mais conhecido, tinha o trabalho da produção de pósitrons em 1933. Depois fui para a Universidade da Califórnia, onde foi inaugurado o sincrociclotron em 1946. Já era 1948 e estava produzindo mésons desde que entrou em funcionamento em 1946, tinha energia mais que suficiente. Então, detectamos, Eugene Garden e eu, o méson artificial, alimentando a presunção de retirar do empirismo todas as pesquisas que se relacionassem com a libertação da energia nuclear. Sabe por que não nos deram o Nobel? Garden estava com beriliose, por ter trabalhado na bomba atômica durante a Guerra, e o berílio tira a elasticidade dos pulmões. Morreu pouco depois, e não se dá o prêmio Nobel para morto. Me tungaram duas vezes".

Lattes, porém, mais próximo do fim de sua vida, parecia realmente não ligar muito para o fato de não ter sido agraciado com o prêmio. Para ele, “esses prêmios grandiosos não ajudam a ciência”.

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Legado e morte

César Lattes provavelmente é mais amplamente conhecido no mundo acadêmico brasileiro por dar nome ao sistema de currículos de cientistas, pesquisadores e estudantes. A Plataforma Lattes, criada pelo CNPq, é amplamente utilizada por alunos, professores e pesquisadores de Universidades brasileiras e registra a vida profissional dos usuários.

O cientista brasileiro também fez parte de uma série de organizações e instituições durante sua vida, como a Academia Brasileira de Ciências, a União Internacional de Física Pura e Aplicada, o Conselho Latino-Americano de Raios Cósmicos, as Sociedades Brasileira, Americana, Alemã, Italiana e Japonesa de Física, entre outras, além de ter sido mentor de importantes iniciativas, como a formação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, da Escola Latino-Americana de Física e do Centro Latino-Americano de Física.

Cesare Mansueto Giulio Lattes faleceu em Campinas, interior de São Paulo, no dia 8 de março de 2005, com 81 anos de idade e em decorrência de um ataque cardíaco, deixando para trás um legado de conhecimento científico incalculável para a humanidade. 


Fonte: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/130039-genios-brasil-8-cesar-lattes-fisico-injusticado-premio-nobel.htm