Física
No passado, era só ele. Depois, vieram os elétrons, prótons e nêutrons. Hoje, fala-se de misteriosas partículas como os quarks, léptons e bósons. Quanto mais se pesquisa a intimidade da matéria, mais surpresas aparecem
“Três quarks para Muster Mark”: a frase é do Finnegans wake, o último e praticamente ilegível livro do romancista irlandês James Joyce (1882-1941).Quark é o nome de um tipo de queijo, mas no livro o significado da expressão permanece obscuro. Graças ao humor do físico americano MurrayGell-Mann, no entanto, a palavra acabou entrando para o vocabulário científico. Gell-Mann havia percebido em 1964 que muita coisa do comportamento de partículas como os prótons e nêutrons, que formam os núcleos dos átomos, poderia ser explicada se elas fossem constituídas de partículas ainda menores. Como estas seriam três para cada próton ounêutron, ele tomou emprestada a palavra de Joyce e as chamou quarks. Conscientes de que estavam entrando num mundo teórico muito diferente da realidade macroscópica com a qual se convive todos os dias, os físicos deram aos três quarks os nomes de up (para cima). down (para baixo) e strange (estranho). Logo. o elenco dos quarks foi ampliado de três para seis, com a inclusão do charm (charme), bottom (fundo) e top (topo). Esses nomes designam os seis “sabores” com que os quarks aparecem. Cada “sabor”, por sua vez, apresenta-se em três “cores” diferentes: vermelho, verde e azul. Esses sabores e cores, evidentemente, não têm nada a ver com as cores e sabores do mundo cotidiano. Indicam apenas propriedades atribuídas aos quarks pela teoria. Nenhum quark livre foi até agora encontrado nas experiências de laboratório. É que, caso existam de verdade, as forças que os mantêm agregados seriam tão poderosas que tornariam praticamente impossível arrancá-los dali. O que a ciência pode afirmar com razoável segurança é que, sejam formados por quarks ou não, partículas como os prótons e nêutrons devem possuir algum tipo de estrutura interna. Eles não são, juntamente com os elétrons a última fronteira da realidade, os tijolos básicos de que todo o Universo seria formado. Essas idéias são relativamente novas. Até o final do século XIX, o próprio átomo, cujo conceito fora herdado da antiga filosofia grega, ainda era pensado como indivisível. A descoberta doelétron pelo físico inglês Joseph Thomson, em 1897, junto com a descoberta da radiatividade pelo físico francês Henri Becquerel, em 1896, forçaram uma revisão radical da velha idéia. Verificou-se que os átomos de substâncias como o urânio emitiam diferentes tipos de radiação e se transformavam em substâncias completamente diferentes. Foram identificados três tipos de radiação, que receberam os nomes de alfa, beta e gama. Constatou-se que os raios alfa eram, na verdade, partículas positivamente carregadas — que hoje se sabe serem constituídas por dois prótons e dois nêutrons, como os núcleos dos átomos de hélio. Os raios beta são, por sua vez, elétrons de alta energia. E os raios gama, radiação eletromagnética semelhante a luz, mas de comprimento de onda muito menor. Ora, pensaram os físicos, por que não utilizar essas partículas de dimensões subatômicas emitidas pelas substâncias radiativas para inspecionar a constituição interna do próprio átomo? Foram idéias mais ou menos como essa que em 1911 levaram o físico inglês ErnestRutherford a uma conclusão surpreendente: a maior parte do volume do átomo era, na realidade, ocupada pelo vazio; uma minúscula região no centro do átomo o núcleo, positivamente carregado, concentrava quase toda a massa atômica; em torno dele, como os planetas em redor do Sol, moviam-se os elétrons, de carga negativa; a atração elétrica entre as cargas opostas é que manteria os elétrons em suas órbitas, assim como a atração gravitacional mantém os planetas girando em volta do Sol. Para se ter uma idéia de como os átomos são pequenos, escreveu o físico austríaco-americano Fritjot Capra, imaginemos uma laranja que tenha o tamanho da Terra; os átomos da laranja teriam, então, o tamanho de cerejas. No entanto, mesmo num átomo do tamanho de uma cereja, o núcleo atômico continuaria invisível: para que se pudesse enxergá-lo, o átomo teria de ter não mais as dimensões de uma cereja, e sim da maior abóbada do mundo, a da catedral de São Pedro, em Roma. Num átomo de tal envergadura, o núcleo teria o tamanho de um grão de sal. Embora sua representação gráfica tenha permanecido como uma espécie de símbolo do átomo, o modelo planetário de Rutherford não perdurou. Seu principal defeito é que, de acordo com a teoria clássica da Eletrodinâmica, os elétrons em movimento deveriam emitir radiação eletromagnética e essa emissão ocorreria à custa da diminuição de sua energia de movimento, ou energia cinética. Movendo-se cada vez mais devagar, os elétrons seriam progressivamente atraídos pelos núcleos, até se chocar com eles. Mas isso simplesmente não ocorre. Esse foi apenas o primeiro de uma série de paradoxos que os átomos apresentaram aos homens interessados em compreendê-los. Os físicos porém, não se desesperaram e acabaram realizando uma revolução científica, com a criação, na década de 20, da Teoria Quântica.
continua>>>http://super.abril.com.br/ciencia/estranha-familia-atomo-438544.shtml
>>> fonte: http://super.abril.com.br/ciencia/estranha-familia-atomo-438544.shtml
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